terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Livros e sacolas

Ponto de vista - 31 jan. 2012

Trazemos três notas de Amelia Gonzales, publicadas hoje na coluna "Notas", das páginas 8 e 9 do caderno "Razão Social" do jornal O GLOBO . A primeira trás uma boa notícia e as outras duas um alerta. Os grifos são nossos:


"Estação Leitura

Quem passar de trem pela estação de Madureira, subúrbio do Rio, já pode pegar um livro para ler na viagem. O lugar tem urna Estação Leitura, serviço de empréstimos de livros gratuitos, com 150 títulos, cada um com três exemplares. Para fazer o cadastro, é só levar documento de identidade e comprovante de residência. É uma parceria da Oldemburg Marketing Cultural, da SuperVia e da Nestlé e funcionará das 9h às 19h.


Fora sacolas

Cerca de 80% dos supermercados de 120 cidades de São Paulo deixarão de distribuir sacolinhas plásticas. Os clientes poderão levar os produtos em caixas de papelão, bolsas retornáveis ou pagar R$ 0,20 por plástico biodegradável. A decisão faz parte de acordo da Associação Paulista de Supermercados (Apas) com o governo do estado. Jundiaí foi a primeira a adotar a medida.


Fora sacolas I

Exemplo de que uma solução tem vários lados: embora as sacolas plásticas sejam ambientalmente problemáticas, uma análise de laboratório encomendada pela Plastivida mostra que, entre elas, as caixas de papelão e as ecobags, as que mais apresentam risco de contaminação dos usuários por bactérias são as caixas, seguidas pelas ecobags, em função da reutilização.
"

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

O destino do Livro entre Pokémon, Backyardigans e tamagochis

Ponto de vista - 06 jan. 2012

Revirando recortes de jornais guardados, encontrei um ótimo artigo intitulado "O futuro dos livros", da autoria de James Warner, publicado na página 3 do caderno "Prosa & Verso" d'O GLOBO de 21 de maio de 2011.

Será que ele acertará em suas insólitas previsões? Só o tempo dirá.



"2020: Todos os livros serão multiplataforma e interativos

Os “livros” do futuro serão agrupados com trilhas sonoras, leitimotivs musicais, gráficos em 3-D e vídeo em streaming. Serão aprimorados com marcadores de página coletivos, namoro online e alertas emitidos por aplicativos sociais geolocalizados a cada vez que alguém na sua vizinhança comprar o mesmo livro que você — qualquer coisa desde que você não precise de fato ler a coisa. Autores vão fazer seu próprio marketing, o leitor será responsável pela distribuição, a sabedoria das multidões se encarregará da edição e a mão invisível do mercado vai cuidar da escrita (se houver alguma). Escritores reagirão tornando-se virais ou animais.

2030: Todos os livros serão financiados em crowdsourcing e armazenados na nuvem

Romancistas vão começar elaborando seus personagens na forma de séries de bonecos de vinil. Se eles gerarem um boca-a-boca razoável, fãs produzirão o romance colaborativamente como um wiki. Conforme você estiver lendo, câmeras termais medirão seus sinais fisiológicos, incluindo oscilações no movimento ocular, contrações dos músculos faciais e batimentos cardíacos, para determinar que rumo você deseja que a história tome em seguida — será esperado que ela leia a si mesma, explique-se e combine de modo não intrusivo no diálogo as mensagens de texto que você for recebendo. Você também será capaz de ajustar com precisão a figuração digital dos personagens, de atirar neles, e (quando imperativo) de entregar-se ao cybersexo. Se um romancista for descoberto postumamente, seus bonecos de vinil podem acabar se tornando itens de colecionador.

2040: Autores serão como tamagochis

Tendo determinado que o que os leitores buscam é um “sentimento de conexão”, editores vão organizar campanhas adote-um-autor, reposicionando escritores no estilo dos Backyardigans e outros animais de estimação imaginários. “Alimentar” seus autores favoritos comprando seus livros fará com que seus avatares virtuais fiquem menos pálidos e entediados. Se eles morrerem de fome sob sua guarda você perderá pontos nas redes sociais. Clubes do livro cultivarão com seus escritores favoritos o mesmo tipo de vínculo caloroso, aconchegante e orgânico que um treinador desenvolve com o seu ou sua Pokémon, um processo que culminará em encontros de luta-até-a-morte entre seu autor e o autor patrocinado por outro clube do livro. Essas lutas ocorrerão offline, já que ainda haverá uma ou duas livrarias existentes, e alguma coisa vai ter que acontecer por lá.

2050: A leitura analógica será simulada digitalmente

À medida em que as pessoas passarem mais e mais tempo imersas em jogos de RPG multiplayer online, elas começarão a ansiar por algum tempo desconectadas. Mundos virtuais começarão a incluir “bibliotecas” onde você poderá se refugiar. Lá você poderá entrar numa banheira virtual e confortavelmente folhear um daqueles tomos puídos — baseados em narrativa linear no estilo velha guarda — que a essa altura já terão sido proibidos no mundo real. Serão reproduzidas perfeitamente a sensação de virar as páginas, as dobras na lombada e o ocasional corte no dedo. Por volta de 2052, 95% da atividade de 73% dos gamers se passará num desses esconderijos, já que eles serão o único lugar onde será possível escapar da incessante construção de comunidades e da conectividade que então será considerada um aspecto enervante da realidade offline.

2060: Livros físicos farão uma reentrada em contextos inconvenientes

Com material impresso tornando-se cada vez mais difícil de encontrar, o Arquipélago dos Antiquários será um popular show de infotainment, estrelando arquivistas com armamento pesado teleportando-se de ilha para ilha em busca de raros tesouros. Enquanto isso novos livros impressos ainda serão lançados — na forma de sobrecapas feitas de fungos comestíveis — como joias faux-antique em Feiras da Renascença e eventos de reencenação histórica nostálgica assemelhados. O último bibliófilo atravessará a cidade em estupor, perguntando-se o que aconteceu com as livrarias. Enquanto isso todo o conhecimento humano será gravado num chip e enviado para o espaço sideral por alunos da quinta série, como estratégia para se livrar do dever de casa.

2070: Nós todos viraremos cyborgs

Novas interfaces entre o cérebro e o computador redefinirão a narrativa, à medida em que eletrodos implantados no neocórtex induzirem histórias a tomarem forma, sem intervenção de terceiros, como alucinações duradouras. Eis que os “leitores” do futuro passarão a maior parte do tempo num estado de evasão epiléptica. Inteligências artificiais usarão o reconhecimento de padrões estruturais profundos, modelagem preditiva e teoria da informação para garantir que cada novo estado de transe seja popular o bastante para ser votado ao topo das plataformas mais quentes de ranqueamento de conteúdo. Nanorobôs em nossa corrente sanguínea vão nos informar como devemos nos comportar, coordenando nossas ações com informações em tempo real de marketing e tendências comportamentais e atitudiais, até que o próprio conceito de individualidade seja reconfigurado, resultando na morte do pensamento independente e na eliminação de muitos de nossos descendentes por vírus mentais interpessoais.

2080: Uma era de ouro de fluidez informacional

Em reconhecimento àquelas pessoas em debates sobre o-futuro-do-livro — há sempre uma dessas, por algum motivo — que insistem que o importante no fundo não é o texto mas o cheiro do livro, livros estarão a essa altura disponíveis apenas como linhas de perfumes. Em seguida, os seres humanos se transformarão numa espécie com um poderoso sentido olfativo, capaz de ler debaixo d’água decodificando sequências de feromônios. A bibliografia-em-aroma será triunfante, à medida em que vastos épicos forem compostos para receptores de fragâncias recentemente desenvolvidos, transformando os mares em elevação numa gigantesca solução de conteúdo transmídia produzido comunitariamente. Também por essa época, a literatura oral dos golfinhos será decifrada e acabará, inexplicavelmente, por ser toda ela sobre vampiros.
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James Warner é escritor, autor de “All Her Father’s Guns” (um livro de verdade!). Mais informações em Texto publicado originalmente na revista McSweeney’s.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

2012 com amor e pé no chão

Ponto de vista - 02 jan. 2012

Para iniciar um novo ano e renovar as esperanças, trazemos o artigo de Chico Alencar intitulado "O novo em nós", publicado na página 20 d'O DIA de hoje. Desejamos um 2012 de conquistas e superações aos nossos leitores. Os grifos são nossos:


"Calendário é engenhosa invenção para contar o tempo. Sua serventia maior é nos estimular a fazer o balanço do já vivido e estabelecer metas para o que virá.

O tempo da História não é igual ao nosso. Essa ‘senhora’ elegante e distante, não nos dá muita bola. É velha mestra de alunos desatentos, quando não ‘matadores’ de suas aulas! Mas se nem sempre podemos mudar esse mundo tão desigual, que ao menos consigamos nos transformar, no plano pessoal.

Aprendo com pessoas iluminadas, que encontrei na estrada da vida, a caminhar com calma bovina e leveza de passarinho. É necessário ter determinação de onça na ‘caça’ dos nossos ideais, mas combiná-la com a gratuidade do riacho em que ela vai beber água. Só assim não seremos contaminados pela doença do século, a ansiedade.

Ser flor do campo, que se basta com sol e chuva, e não inveja os outros elementos. Viver em harmonia: saber-se pedra, árvore, húmus, nada ter a perder. Fraternizar-se com os que têm patas e asas, pulsar com tudo o que pulsa, enquanto o ‘tambor do peito, amigo cordial’ mantiver o ritmo.

Como a ave do caminho, cuidar de ser saudável: espírito e matéria na comunhão que a sociedade compartimentada nega. Malha-se o corpo para a vaidade, não para a saúde, e ‘engorda-se’ a alma com antidepressivos.

Chamar de volta o trapezista dos circos da nossa infância: com equilíbrio, nada em nós exagerar ou excluir. Fazer do necessário o suficiente e viver mais simplesmente, para que simplesmente todos possam viver. Resistir ao consumismo que nos consome.

Pés no chão, firmes e suaves, descalços de preconceitos e maledicências, buscar o que nenhuma tecnologia ultramoderna da comunicação oferece: conectar-se ao todo-poderoso Amor!"

* Chico Alencar é professor e deputado federal pelo PSOL